“Terá tido início nos idos anos trinta do século passado, aquela que foi uma das importantes indústrias da Vila de Sardoal durante cerca de cinquenta anos” (LuísManuel Gonçalves).
Ninguém consegue determinar com exatidão como começou, mas muito provavelmente, segundo testemunhos de maleiros, Luís Paulino foi o pioneiro no fabrico destas malas no Sardoal. Ele terá trazido uma mala de algures e, junto à Igreja Matriz, deu início à sua produção.
O processo era muito simples e não se diferenciava muito da carpintaria normal para este tipo de objetos. Construídas em madeira de pinho, forradas por fora a folha-de-flandres litografada e a papel estampado por dentro, conseguiu-se, com este método, uma forma económica de ter uma mala com bom acabamento e condições excelentes de conservação.
O expoente máximo da atividade de fabricação de malas, neste concelho, ocorreu entre 1940 e 1970, vindo a decair com o encerramento da SARDAN, acabando definitivamente com o encerramento da fábrica de Rui Dias.
No seu auge foi uma atividade fervilhante com encomendas do Fundão a Lisboa, de onde chegariam ao resto do país e além-mar. Para satisfazer esta demanda foi constituída no Sardoal uma rede de transportes de carroceiros, onde constavam os nomes do Gilberto Ribeiro, Joaquim Alpalhão, Júlio Grácio e António Nobre, que levavam as malas para a estação de caminhos-de-ferro de Alferrarede.
Este ponto alto coincide com a emigração para o Brasil e para África, onde estas malas de porão, devido à sua forma e robustez, eram ideais para o transporte de determinados bens, entre eles, roupa.
Esta atividade, que chegou a ter malarias com 15 carpinteiros, dinamizou outras atividades como a fabricação de ferragens, carpintarias e serrações.
Nesta verdadeira arte da malaria em folha-de-flandres no Sardoal, tiveram expressão significativa as unidades pertencentes a Luís Paulino, José Marques, Manuel do Nascimento Falcão, Abílio Gomes, Rui Dias, Francisco Dias, Francisco dos Santos, Manuel dos Santos Pinto e Sociedade Reis & Simples, que no seu conjunto empregavam algumas dezenas de operários.
Estas fábricas produziam vários tipos de malas: brasileiras ou de porão; fibrete com réguas pintada; malas de viagem; malas de mão; malas em fibrete; malas de cartão e malas de viagem em carneira.
Existem, ainda, muitos maleiros vivos que mantém a memória desse tempo, que contam o processo de fabrico, num tempo não muito distante, mas de vivências e valores completamente diferentes.
Agradecimentos: António Moleirinho Júnior; Arnaldo Cardoso; Celeste Paulino; Emília Rosa; Fátima Paulino; Henrique Dias de Matos; Hermínia Fernandes; Joaquim Lopes; Luis Gonçalves; Maria José Chambel Gomes; Noémia Dias; Paulo Sousa; Rosa Agudo; Rufino Vicente Gomes e Rui Dias.