Conta-se que há muito tempo atrás, quando S. José fugia do Egipto, que teria passado pela Serra de Alcaravela. Acompanhado pela Senhora, pelo Menino, e por um burrito que os transportava aos dois, a Divina Comitiva foi bem recebida na Serra – os pássaros entoavam canções, os javalis, os lobos e as cabras paravam solenes e respeitosos. Caminhavam serenos até que se depararam inesperadamente com o precipício do Vale do Cabril. O burro parou com tal firmeza que a sua ferradura terá ficado marcada numa pedra.

O corvo esteve atento a este obstáculo no caminho da comitiva, e com a sua voz, até a este dia melodiosa, dirigiu as restantes aves numa sonora cantada ao Deus Menino. Enquanto estas cantavam, o corvo voou para longe, mas cedo regressara com uma colcha luxuosa, que roubou em outros tempos a uma mulher da nobreza.

Conta-se que há muito tempo atrás, quando S. José fugia do Egipto, que teria passado pela Serra de Alcaravela. Acompanhado pela Senhora, pelo Menino, e por um burrito que os transportava aos dois, a Divina Comitiva foi bem recebida na Serra – os pássaros entoavam canções, os javalis, os lobos e as cabras paravam solenes e respeitosos. Caminhavam serenos até que se depararam inesperadamente com o precipício do Vale do Cabril. O burro parou com tal firmeza que a sua ferradura terá ficado marcada numa pedra.

O corvo esteve atento a este obstáculo no caminho da comitiva, e com a sua voz, até a este dia melodiosa, dirigiu as restantes aves numa sonora cantada ao Deus Menino. Enquanto estas cantavam, o corvo voou para longe, mas cedo regressara com uma colcha luxuosa, que roubou em outros tempos a uma mulher da nobreza.

A solução estava em vista: depois de estendida a colcha, acenou para que a comitiva se colocasse por cima dela, e num esforço heróico, cada pássaro tomara no bico um pedaço da colcha, e juntos levantaram a comitiva pelo ar. Ultrapassado o precipício, e depois duma aterragem segura, o Menino agradece toda a amabilidade dos animais e abençoou a terra onde estes vivem. No entanto, aconselhou ao corvo que devolvesse a colcha à devida dona, pois não lhe pertencia. E assim continuaram a sua jornada.

O corvo, hesitante em seguir o conselho do Deus Menino e consumido pela avareza, decidiu ficar com a colcha, e estava a voar de regresso ao seu esconderijo quando viu no chão um pastor a comer um queijo. Guloso, o corvo largou a colcha e descendeu para roubar um pedaço, só que o pastor estava atento e cedo o guardou.

Sem achar a colcha, já desesperado, o corvo estava prestes a rogar uma praga ao Menino Jesus, quando a voz lhe faltou – e quando regressou, estava diferente, rasgada, desagradável e sem tom. A partir desse dia que os corvos grasnam assim e nunca mais cantaram como antigamente.
Diz o povo que o corvo e os seus descendentes ainda hoje procuram pela colcha.
E quando os ouvem crocitar, ao longe, dizem: “Lá andam eles à procura da colcha da fidalga”.