Alina Rodrigues tem uma vida dedicada aos teares. Há mais de cinquenta anos que trabalha na tecelagem. Foi uma das primeiras cooperantes da Artelinho, onde também dá uma ajuda nos doces. Já ensinou a arte das teias a muitas mulheres e fá-lo com prazer. Aos 66 anos de idade, o número de trabalhos que fez perdem-se nas linhas imensas de um tear…

Quem ouve Alina Rodrigues falar sobre tecelagem depressa fica preso nas suas palavras. A paixão com que descreve os trabalhos e o orgulho com que mostra os doze teares do atelier da Artelinho fazem-nos pensar se esta mulher terá nascido com o dom de tecer.

Há mais de meio século no tear…

Alina Rodrigues tem uma vida dedicada aos teares. Há mais de cinquenta anos que trabalha na tecelagem. Foi uma das primeiras cooperantes da Artelinho, onde também dá uma ajuda nos doces. Já ensinou a arte das teias a muitas mulheres e fá-lo com prazer. Aos 66 anos de idade, o número de trabalhos que fez perdem-se nas linhas imensas de um tear…

Quem ouve Alina Rodrigues falar sobre tecelagem depressa fica preso nas suas palavras. A paixão com que descreve os trabalhos e o orgulho com que mostra os doze teares do atelier da Artelinho fazem-nos pensar se esta mulher terá nascido com o dom de tecer. Possivelmente, assim terá sido, mas os ensinamentos da mãe, Conceição Luísa, muito contribuíram para o que hoje sabe. Teria cerca de dez anos, quando a progenitora a iniciou nas artes da tecelagem. A única rapariga de três irmãos, que ficaram órfãos de pai cedo demais, ficou em casa, enquanto os irmãos saíram para trabalhar fora e ajudar no sustento da família. E era em casa, no tear da mãe, que dava o seu contributo. Aprendeu a arte rapidamente e pouco tempo depois já tinha duas aprendizas a seu cargo. Comunicativa por natureza e de sorriso fácil, Alina gosta de transmitir os seus conhecimentos porque “quando damos também recebemos”.

Afeição à Artelinho
Esta ligação às teias e o facto de pertencer ao Grupo de Ação Católica Rural de Alcaravela, que desenvolveu o projeto Artelinho em 1989, fê-la estar entre as primeiras cooperantes. Recorda que no início eram 20 mulheres a trabalhar efetivamente. A sua humildade não lhe permite admitir que já ensinou a arte a muitas tecedeiras. Prefere referir tudo o que tem aprendido, nomeadamente, nas ações de formação, promovidas nesta Cooperativa. A sua afeição à Artelinho é forte. Ali sente-se em casa. Não fossem algumas complicações de saúde e, com certeza, passaria muito mais tempo naqueles teares. Há cerca de oito anos atrás, fazia, em média, duas colchas por mês. Nessa altura, o marido, Alfredo Rodrigues, deixava-a lá por volta das sete da manhã e ia buscá-la às cinco ou seis da tarde. Outras vezes, fazia o caminho entre a sua casa, em Vale de Onegas, e Santa Clara na sua “acelera”. Hoje em dia, fá-lo de carro. Adquiriu um veículo que não necessita de carta de condução e só anda dentro de Alcaravela. Com o seu bom humor revela que “já o devia ter feito há muito tempo”.

Enxoval quase sem linho
Maria Alina Conceição Pedro Rodrigues nasceu a 25 de dezembro de 1947, na Saramaga, Alcaravela. Mudou-se para Vale de Onegas quando casou e no enxoval levava muitos bordados. Peças de linho eram poucas. Um dia, quando servia num casamento, uma senhora com quem conversava, sabendo da sua ligação aos teares, comentou que ela devia ter muitos trabalhos em linho. “Cá para os meus botões, pensei: é que nem por isso”, conta Alina. Esta história mexeu com ela e, nos dois ou três anos seguintes, começou a fazer trabalhos para ela própria. “Agora já tenho umas gavetas cheias”, afirma orgulhosa.
À filha, Raquel, também ensinou a arte do tear e espera ter força para vir a ensinar à neta, Ema, de três anos. Acredita que vontade de aprender não lhe faltará até porque a pequena Ema adora acompanhar a avó nas suas andanças pela Artelinho. Confessa, no entanto, que sente necessidade de ensinar o processo todo a alguém mais novo, principalmente a face inicial que é urdir a teia.

Uma mãozinha nos doces
Quando a crise económica se começou a fazer sentir, as vendas dos artigos de linho da Artelinho começaram a cair. Foi nessa altura que as cooperantes decidiram alargar a sua atividade ao forno. Também nesta área, Alina ajuda sempre que pode. A experiência adquirida nos muitos casamentos que serviu permite-lhe auxiliar, principalmente, na confeção de bolos e tigeladas porque “para uma amassadura de pão já me falta a força nos braços”.
O entusiamo com que explica o trabalho que está a ser feito em cada tear, o carinho com que fala de cada uma das suas companheiras e a vaidade com que mostra o espaço que acolhe o Museu da Artelinho (a inaugurar brevemente) são motivos, mais do que suficientes, para acreditar que Alina Rodrigues continuará atrás daqueles teares por muitos anos…